quinta-feira, dezembro 20, 2007
De regresso... ou não!
Relativamente às diferenças entre homens e mulheres, a principal está nas expectativas. O homem espera sexo e a mulher espera uma relação. A mulher tem expectativas. O homem vive. São conceitos bastante diferentes. Não tenho grandes ambições mas cada vez mais sinto o que caminho para ser feliz passar por estar sozinho. Além disso já estou habituado. O gato não me manda apanhar a roupa suja, lavar a loiça... só pede para lhe mudar a areia.
Já perdi a prática de convidar alguém para jantar, beber um copo, um café, passear. Assim vivo na expectativa (nada ansiosa...) de ser convidado.
Ou 'tou velho ou cansei-me de tentar ser bom nalguma coisa... não vale a pena. São os outros que avaliam as nossas qualidades e eu já não tenho publico. Nem quero.
Os custos do sexo são sempre muito altos. Em especial no campo emocional. E emoções também já não tenho... e estou muito bem assim. Aconselho!
quinta-feira, agosto 30, 2007
Um dia bonito
Enquanto descia para a cozinha relembrando as tarefas do dia, ouvia Carmen a levantar-se. Ia ser mais um dia em que as palavras que trocássemos não seriam mais do que o “bom dia”, “a janta está na mesa”, “vai levantar a tua filha”. Lavei duas malgas, onde iríamos demolhar o pão seco no leitinho fresco tirado da vaca “se esta preguiçosa se despachar” – pensei.
Tinha 25 anos e estava casada à 8. Já não é uma miúda e devia saber cuidar da família. Só quer estar para ali a bordar... ainda se o fizesse bem e vendesse para fora, não teria de ser eu a tomar conta de tudo. Lá vem ela com o leite e os ovos. Vai queixar-se outra vez que o galo a picou.
Anton e o genro entram na cozinha.
- Bom dia, minha mãe – diz-me Manolo. Continuo sem perceber como este bonito e esperto rapaz se casou com a preguiçosa da minha filha.
- Bom dia, menino. Então, é hoje que a égua vai parir?
- Parece. Hoje vai ser um bom dia – diz, olhando para fora.
- Sim – responde Anton, que apesar das poucas palavras e das advertências muito gosta do genro.
Quanto saíram, beijei ambos sob o olhar preguiçoso de Carmem, que depressa repetiu o gesto. Penso, com alivio, que ainda bem que Manolo acabou a tropa antes de começarem a lutar, se não poderia estar a chorar dois filhos.
Já o Sol subia no céu quando disse à miúda para levantar a filha. Eu tinha de ir comprar pão. Com traquinice a miúda tentou trepar-me pelas pernas, pedindo “beijo, vó, beijo”. Nada de mal acontece num dia bonito.
Pelo caminho para a padaria, ouvia noticias da guerra e pensava no meu Alfonso que Deus tinha. Morrera em Madrid, quase há um ano quando os militares fizeram o golpe. Lá, longe da Biscaia, longe de Guernica, onde a guerra nunca vai chegar.
2000/02/16
quarta-feira, agosto 29, 2007
Miolo...
Saí de casa pela fresca para apanhar o autocarro. As pessoas vão-se agrupando na paragem, disciplinada e desordenadamente. O enorme monstro vem aos saltos sobre os paralelepípedos negros, a bufar e a uivar. As pessoas vão-se aproximando da glória de serem os primeiros a entrar no ventre malcheiroso do monstro. Qual Caronte, o barqueiro do inferno de Dante, o motorista olha-nos com olhos de fogo, tentando descortinar as irregularidades na documentação que lhe apresentamos.
Os únicos lugares são de pé, onde nos entrechocamos, com os saltos do leviatã que se desloca com rapidez, ansioso por engolir, até mais não poder, os seus passageiros. No seu ventre, uma algaraviada de sons pretende servir de comunicação, não mais sendo que berros lançados de uns passageiros a outros que tentam captar a informação assimbólica. As vidas dos outros, as novelas, os jogos, os concursos são bons motivos para não acordarmos. Os metros até à paragem seguinte são engolidos tão depressa como os passageiros que nela entram.
Com entrada do fiscal, a malta, com um receio enraizado da autoridade, parece encolher-se na sua pequenez. A palavra “pica” percorre o imenso veículo. E o bom português na sua já longa tradição de fuga à autoridade, permite o alerta ao incauto transgressor.
Finalmente saio, com a respiração apressada, após um combate quase titânico com os que ficam. O monstro lá continua a sua viagem com asfixiante bufar, na busca de necessitadas vitimas do transporte.
Ainda não cheguei ao fim da minha viagem e já entro na gigantesca serpente que percorre as fundações da cidade. Nem aqui os passageiros se tornam mais disciplinados. Agridem, empurram, desafiando-se com impunidade. O grande prémio é um assento, que ocupamos durante 5 penosos e cansativos minutos, sob um ar condicionado avariado. A velocidade imposta pelo verme é tal que precisamos das nossas forças para manter um precário equilíbrio.
Na saída, nova batalha se desenrola em busca da luz do dia.
Cá fora separo-me dos outros e só, percorro os passos que me levam ao cansativo dia que vou ter pela frente.
22/02/2000
sábado, agosto 25, 2007
Só mais uma noite...
O meu olhar vagueou confusamente pelo resto do local, inconsciente da minha presença. De repente já não estava só. Uma enorme boca, com uma fileira de dentes perfeitos sorria a curta de distância, tentando formar sons audíveis no meio da construção do barco (tenho a certeza que era um barco que construíam, porque começava a ficar enjoado). Aproximei-me um pouco mais em duas ou três cabeçadas. Perguntou se podia beber o que eu estava a beber. Que não, que o copo era meu, mas se quisesse que pedisse um igual. Agora sorriram os olhos (maliciosamente?!), e perguntou, aproximando-se muito, se eu estava bem. O meu sorriso espraiou-se num mar de rum, e disse-lhe que sim. Começava agora a reparar nela: era uma mulher! Tinha um pequeno top branco de onde espreitavam uns mamilos curiosos. Já as calças terminavam com umas penas castanhas, o que me fez pensar “que raio de pássaro é esta?” Ela acompanhou o meu movimento de apreciação, com um gole do meu copo, que entretanto fugira em busca de umas mãos mais agradáveis. Não era o meu tipo de mulher.
Agradou-me no entanto não estar só. A conversa fluiu por imbecilidades que pouco ou nada tinham de importante, como: “como te chamas?” ou “o que é que fazes?”. Mas por aí se quebrou gelo e até o motor estava a cheirar melhor, e já eu estava a lamber o rum acumulado na garganta dela.
Perguntou-me se queria ir para outro sítio e eu concordei. Queria mostrar-lhe as coisas em que sou bom. Naquele momento já ela era o que havia de mais importante. Tinha uma cabeça inchada pelo alcool e outra pelo desejo. Vestiu um blusão com o peito de pomba que lhe faltava a ela e saímos como duas folhas ao vento, tropeçando até ao meu velho carro, que tantas noites me levara a casa.
Liguei o rádio de onde fugiu a leve melodia da Úrsula, “Fica com as tuas recordações que eu fico com as minhas” ou a apologia do cornudo. O carro, esse ciumento, embirrou que não pegava. Em arrastadas palavras expliquei-lhe que ele era o verdadeiro amor da minha vida. Por fim, no meio de negros soluços de rancor, lá se dignou a ronronar como um leão esfomeado.
Avançámos ao longo da Alam. 31 de Fevereiro , com fogo nas calças pois as mãos delas paravam tanto como as minhas que mal acariciavam o volante. Ela indicando, com a boca cheia, esquerda, direita... E eu acelerava. Todo eu acelerava. E o carro chateou-se de vez, deixando de nos guiar, com um súbito grito LEVA O TU! atirou-se para fora da estrada, saltando por cima de dois carros e espetando-se na montra de um stand de automóveis. Talvez tenha visto a berlina da sua vida.
Dou por mim com o volante retorcido, coberto de vidros e com algo que se assemelha a uma mulher no capot do carro. Parece ter uma massa de sangue no lugar da cabeça. A minha mão não pára de abanar, num ângulo algo estranho. O vómito nas calças e no tablier deve ser meu. A boca sabe-me a vómito. Apetece-me dormir.
sexta-feira, julho 20, 2007
terça-feira, julho 17, 2007
Amigalhaço do piaçaba...
Antes de começar a dissertar gostava que me explicassem como deve ser designada tão fantástica invenção. Nos dicionários não existe; piaçaba é uma palmeira (poderá ser uma associação de imagens?)... Indistintamente, o português utiliza a expressão piaçaba, piássá, piassabe, piassaba... Mulheres que nos obrigam a usar tão estranha invenção, esclareçam-me.
Ponto 2: Dissertação sobre o dito...
Temos um novo presidente da Câmara em Lisboa, com funções do dito pincel (limpar o que uns fizeram e outros cultivaram). Meninas, mandem um livro de instruções para que alguém na CML o saiba usar, que isto tudo já cheira mal. Tinha de sair uma piada infâme sobre o novo executivo da CML.
Ponto 3: Regresso às bases!
Gostava de explicar às Sras. que os homens sabem usá-lo, no entanto na sua liberdade, adquirida há já muitos séculos, optam por não lhe dar uso. Não por falta de higiene (pela parte que me toca desde cedo fui ensinado a usar o pincel!), mas por conforto. Para quê dobrar-me pegar no pincel, esfregar (é assim que se usa?)? quando a água devia fazer isso... o defeito está nos autoclismos e nesta obrigação de poupar água.
Ponto 4: Gramática ou português?
Às Mulheres (todas elas com “eme grande”): esclareçam-nos por favor da designação, na nossa língua mátria, que pretendem dar ao pincel de limpeza de sanitas. Não que isso venha a melhorar a nossa utilização do respectivo mas aumenta a cultura geral...
quinta-feira, julho 12, 2007
Portugueses...
Gostava de perceber o que os europeus que cá passam nas férias não vêem neste País quando o pior está à vista de todos. Eu contrário do que possa parecer gosto demais deste País, consigo ver o bom e também o mau.
Mas cada vez mais, o sacana domina. Ao "O mundo é dos espertos!" (Fried Green Tomatoes - Mulheres do Sul em Português) a resposta é só uma "O mundo é dos ricos!" (do mesmo filme...) e assim quem tem valores que passaram estupidamente de geração, é amordaçado, feito de parvo, enquanto o poder se mantém em equilíbrio entre os sacanas espertos e os sacanas ricos.
E se fazemos um esforço para mudar isto... estamos a ir contra os estúpidos princípios pelos quais moldamos a nossa personalidade e construimos os caminhos da nossa vida.
Está na hora de ensinarmos às gerações vindouras o seguinte: esqueçam a natureza e pisem todos os que puderem, o caminho é por cima desses, roubem o máximo que puderem ao vizinho do lado antes que seja ele a fazê-lo.
Se calhar fui brando mas disse...
P.S. A figura acima é só para me meter com o glorioso "rosinha"...
terça-feira, julho 10, 2007
Saudade...
Epístola para Dédalo
Porque deste a teu filho asas de plumagem e cera
se o sol todo-poderoso no alto as desfaria?
Não me ouviu, de tão longe, porém pensei que disse:
todos os filhos são Ícaros que vão morrer no mar.
Depois regressam, pródigos, ao amor entre o sangue
dos que eram e dos que são agora, filhos dos filhos.Fiama Hasse Pais Brandão, in Epístolas e Memorandos, 1996
Um beijo grande cheio de saudade e (sem ser religioso) que no sitio onde está agora, não haja sofrimento.
sexta-feira, julho 06, 2007
quinta-feira, julho 05, 2007
Balanços...
Passamos a vida a fazer balanços, normalmente quando finda uma fase, normalmente pelas piores razões, chegamos, normalmente, às piores conclusões. É normal a nossa tendência para o equilíbrio, ou para o desiquilíbrio. Que raio disse eu?
Apesar de desejarmos os extremos bons, quando fazemos o balanço estamos no mau extremo. Tendência curiosa, é o facto de termos assumido em todas as culturas que o equilíbrio é o ponto em que devemos estar, contrariando o nosso desejo de estar no cúmulo da felicidade por oposição à infelicidade. Raio de coisa: ou todos os filósofos, gurus, profetas não dizem senão asneiras ou somos nós como seres "ó-manos" que nunca estamos satisfeitos com o que temos. Queremos mais e mais e mais. Não ficamos satisfeitos com a "italiana", nem com a "cheia" nem com a "normal". Queremos sempre o leite ou o cheirinho.
Não nos satisfazemos com uma paisagem espetacular sem criticarmos o sítio em que nos sentamos... terra, formigas, pedras...
Voltando ao balanço do blog (que com inspirações e desinspirações já cá anda há uns mesitos) direi que ando na média... Uns posts maus, outros fraquitos, outros apalhaçados, alguns engraçados. Em todos me expus: sentimentos e opiniões. Em todos fui eu. O meu objectivo era inicialmente contos e só postei um... acabei por me perder em depressões, comentários sócio-económicos mas cá ando ainda com esperança de manter alguns leitores.
Nunca pretendi fazer disto um diário e ainda bem porque não saberia o que escrever.
Vou continuando por cá com maior ou menor assiduidade, esperando postar os contos que tanto gosto de escrever mas para os quais ando algo desinspirado.
sexta-feira, junho 29, 2007
só me apetece dançar
há tentas caras bonitas
tantas mãos a acenar
eu sou um balão colorido e mágico
- bom dia!
Ontem já passou
amanhã pode ser bom
mas hoje é o melhor dia que há
nem preciso de fé
eu felizmente não preciso de nada
- bom dia!
Hoje eu sou um homem contente
ao serviço do amor
sou o próprio sonho
e desconheço a dor
eu sou o vagabundo mais feliz que existe
- bom dia!
Hoje eu sou o mais forte dos deuses
mais cretino que a morte
estou por cima da queda
mais seguro que a sorte
eu sou o universo inteiro a sorrir
- bom dia!
Jorge Palma - Bom dia
Alguém disse que a vida é o que fazemos do tempo que nos é permitido para a viver (talvez um hobbit ou um qq vampiro, dos mundos fantásticos que me habituei a ler). Muitas vezes me lamuriei por aqui, sendo injusto comigo e com as pessoas que me apoiam, apoiaram e que estiveram comigo. O balanço é positivo... mesmo muito positivo. Tive e tenho a sorte de puder dizer que fui amado... mesmo muito. É com tristeza que digo que nem sempre correspondi como as pessoas mereciam.
Posso dizer que mesmo não atingindo todos os objectivos que me propus, sorrio ao pensar nas amigas e amigos que fiz. Posso dizer que tive e tenho mais sorte que muitos. Mas talvez seja mais fácil ser amado do que amar.
Em resposta a um comment que me foi deixado há pouco tempo, diria que o nosso tempo de criança traz-nos experiências que não devem ser revividas mas que nos dão experiência para continuarmos a ter esse espirito, que não deve ser esquecido mas alimentado.
segunda-feira, junho 25, 2007
Atrasos postáveis...
Onde há sempre lugar para mais alguém
O bairro do amor foi feito a lápis de cor
Por gente que sofreu por não ter ninguém
Jorge Palma - Bairro do Amor
Espero que possam perdoar a prolongada ausência, durante a qual tanto ficou por dizer ou referir. Posso dizer que assisti a um concerto de piano, no mais improvável dos lugares: uma farmácia. Entre calicida e preservativos, uns copos de de vodka e um gin tónico manhoso, um efiminado declamador tentou acompanhar a pianista com uma sonoridade que fazia lembrar a "Amélie". Tudo isto junto às ruínas do Conde Barão.
Riam-se mas o promenor seguinte tem o seu quê de piada ou loucura: esqueci-me das férias que tinha marcadas para o inicio deste mês.
Mais assuntos a recuperar, na noite de 12 para 13 tivemos o desfile de condidatos à presidência da CML, à qual foi dada tanta importância que da tradição ninguem deu conta. Além disso, um aeroporto internacional e estacionamentos têm mais importância que que o bem estar dos Lisboetas e os fatos pirosos do desfile de bairros da capital.
A Maddie tá morta: informem a PJ... quanto à localização do corpo: quero lá saber!
A RTP esqueceu-se do serviço público que devia prestar e deixou de nos bafejar o fds com as cores e emotividade da F1... racismo puro, pela primeira vez temos um preto a conduzir em GPs além de que está no comando do campeonato. Acuso a RTP de estar filiada no PNR.
BTT, pouco se vê e só no canal 2... será que falaram das 24H de Monsanto ou do Transportugal em BTT de Bragança a Sagres? Atravessar a ponte e levar uma bike para casa isso sim é mediático...
Muita resmunguice e pouco sumo... tou velho!Publicar postagem
sexta-feira, junho 01, 2007
Dia da Criança...
Alguns dir-me-ão que talvez seja demasiado criança, para saber olhar a vida como um adulto... talvez aí esteja a tristeza de ser adulto: esquecer a importância de sentir tudo, de conhecer tudo e de viver tudo... de viver no limite, de saber correr riscos, de nos magoarmos e levantarmo-nos prontos para a queda seguinte. Atirava-me outra vez do primeiro andar e revivia toda a dolorosa experiência, partia-me novamente contra uma árvore num qq singletrack de BTT... A vida nada vale sem isso. Talvez baixe outras couraças se reaprender a viver como uma criança...
É preciso uma criança para despertar esses momentos de felicidade em nós, adultos de olhar baço pela desilusão. Uns olhos claros, vivos e brilhantes ainda não marcados pelas desilusões que marcam a vida dos adultos... Cheios com as ilusões das novas experiências, que são vividas com plena intensidade, sem esperar pelo amanhã. Preciso despertar essa criança... se calhar somos muitos a precisar.
sexta-feira, maio 25, 2007
Cansado... ou muito cansado?...
Sei que não tive força para ser eu... sei que nunca construí nada sózinho... sei que dei mais do que me deram até desistir... sei que as palavras magoam mais do que os gestos e que estas podem magoar alguém.
Não estou só triste, apenas só! Perdi a minha alma à tempo de mais e quiz enganar a vida a negar isso mas o peso do corpo sem a alma para o carregar é imenso. Apenas peço a alguém que é muito especial que não se deixe cair nos maus exemplos que são a minha vida...
A via da felicidade é a mais dificil... as dores que nos traz não compensam... o alcóol não te cauteriza os sentimentos apenas os torna mais dolorosos...
Talvez tivesse sido mais correcto seguir o rebanho... tu ainda estás a tempo. Não vivas a tua vida, não tenhas liberdade... segue os passos que a sociedade te dita como normais, no meio disso talvez encontres momentos de paixão, alguma felicidade... nunca o amor romântico que os 2 últimos séculos e a cultura americana tanto exacerbaram.
sexta-feira, maio 18, 2007
O Portuga...
Muito se tem escrito sobre o dito mas venho agora informá-los de que a net já dispõe da mais completa enciclopédia sobre o Portuga. Mais do que informações escritas esta página dispõe de algumas animações excelentes... Com muita paciência passem as páginas em O Portuga de A a Z
segunda-feira, maio 14, 2007
Os homens são todos iguais!
(...)
Vinte mil léguas de virgens vieram
Inutéis e despidas"
Zeca Afonso
Se estou errado corrijam-me... se vos apetecer apedrejem-me...
sexta-feira, maio 04, 2007
FDSemana de repouso e sem chaparro...
Talvez sejamos nós que nos deixamos conquistar.
Voltei a Évora ao fim de muitos anos para passar um FDS e tal como da primeira vez esqueci-me do rolo na máquina, felizmente hoje em dia já vêem com cartões de memória, pelo que pude registar a minha passagem por lá. O dia estava bom, as migas de espargos e o vinho n' O Garfo também.
A sabedoria popular alentejana, espalhada pelas paredes da cidade, retratam ainda o humor alentejano como uma religião ou forma de estar na vida.
Como budistas, que não são, mantêm um espírito pacato no meio de uma enorme necessidade de se exprimirem, com as suas "bárbaras" amplitudes térmicas. Um verão escaldante e um inverno gelado, fazem de Évora uma cidade especial.
O passeio de domingo, teve Estremoz como palco. Terra lindíssima, com habitantes pouco alentejanos, arrogantes e mal encarados que nem no posto de turismo se mostram capazes de um sorriso mas sim "devias ter fechado a porta" logo após a entrada de cliente... É mau!
No entanto conseguimos manter o sorriso alarve e salivar à procura de restaurantes com nomes tão típicos como "A Patanisca" ou "Pichanegra", por ruas com nomes igualmente caricatos.
A comida era excelente mas mantive-me na cerveja... uma variante.
Vila Viçosa foi a paragem seguinte, consegui ficar aflito da pata partida.
Jantei num restaurante junto a Montemor o Novo, com esperança (que é verde) de o Sporting conseguir enganar o árbitro durante 90 mins. Fica a próxima...
quinta-feira, abril 26, 2007
25 de Abril... sempre?
Fiquei chocado (mesmo chocado!) por me pedirem um euro por um cravo... depois queriam negociar para três cravos pelo mesmo preço. Ficamos com os símbolos manchados. Os símbolos só têm força enquanto os entendermos. Perdemos o norte? Para nós é fácil falarmos em liberdade sem termos conhecido a prisão... é o legado da geração dos nossos pais, mas será que nos transmitiram o seu significado?
O saudosismo dos anos de liberdade confunde-se já com o saudosismo dos novos fascistas. Por um lado gritam-se palavras de ordem contra o governo que a maioria escolheu. Por outro há um regresso de conceitos nacionalistas e xenófobos. A força de um ditador é já pedida para aplacar os males e as diferenças sociais.
Até quando vamos permitir que os nossos representantes nada façam enquanto nos invadem os espaços publicos com ideias e conceitos xenófobos? Até nos entrarem em casa? Somos um país de mestiços... O nosso fundador era filho de um francês e de uma moura...? Não me falem em pureza da raça... Orgulhemo-nos de todos os portugueses judeus, muçulmanos, hindús, brancos e pretos, que trouxeram alguma projecção a este país que cai novamente na ausência de valores...
segunda-feira, abril 23, 2007
Novas oportunidades...
Realmente vivemos num país estranho: por um lado, temos milhares de empregados com baixas qualificações mas a quem oferecemos gratuitamente uma certificação das suas competências, por outro lado temos milhares de desempregados ou empregados licenciados, muitos deles que pagaram durante 5 anos as suas qualificações, muitas vezes acima das funções que realizam, recebendo como não licenciados.
De forma alguma estou contra a validação e certificação de competências baseada na experiência no mundo do trabalho. Mas o mesmo governo que investe milhões em dar competências em quem não as tem, esquece o papel que tem na reestruturação da economia e na criação de emprego.
Medidas que funcionam, raras vezes são usadas pelos diferentes governos deste república de bananas, perdão de Eng.os, que com todo o respeito gastaram anos a preparem-se para o mundo do trabalho e talvez esteja a receber como operários (ou se tiveram sorte, talvez recebam com 1º ministro).
As politicas salariais também acompanham esta certificação das competências. As medidas são boas mas precisam de ser enquadradas na rede desta sociedade. Não me compete, mas posso deixar algumass sugestões a quem nunca me irá ler: o investimento da economia portuguesa através da redução do IVA e IRS, poderá trazer resultados ao nível da redução da inflação, do nível de vida de todos, o que poderá também trazer uma melhoria dos niveis de produtividade dos trabalhadores. Mas isto são apenas palavras de alguém com os defeitos de formação na área de sociologia e não de economia... palavras de um treinador de bancada.
Uma boa semana a todos.
sexta-feira, abril 20, 2007
FDSemana com Sol...
Só um apontamento para vos desejar um bom FDS... aproveitem o sol de domingo...
quinta-feira, abril 19, 2007
Para ti...
segunda-feira, abril 16, 2007
Bom Nome...
Fugindo um pouco ao tema que serviu de mote aos meus últimos posts, venho sugerir que aproveitem a noite de hoje para irem ao cinema, e assistam ao regresso da realizadora indiana, Mira Nair, às salas portuguesas.
Além de uma história belíssima, mostra-nos os contrastes culturais de uma família emigrada nos USA, a sua adaptação (diferente no que respeita às gerações) e a importância que os nomes têm. Mesmo com origens diferentes talvez seja engraçado saberemos porque razão os nomes que temos nos foram dados.
O filme chama-se em português “O Bom Nome”. E vou continuar a fazer sugestões culturais sempre que a oportunidade surgir...
sexta-feira, abril 13, 2007
Diferenças... entre iguais...
O mau feitio só pode ser genético... e o meu é de certeza (até o meu gato já o adoptou como forma de vida).
Há coisas que saltam de uma geração para outra e como comecei há uns posts atrás a falar das diferenças de gerações, apetece-me continuar a usufruir deste mau feitio que me é característico, continuando a divagar.
Apesar de feitios iguais, valores semelhantes as experiências de vida tornam-nos diferentes. Os diferentes percursos de integração social, levam-nos a ter diferentes objectivos na vida e a ver a vida e os outros de formas diferentes.
Não tenho por objectivo ser igual aos meus pais... apenas vou construindo (com muitas asneiras!... calhando) a minha vida com cacos que consigo colar como um Picasso, que ele se esqueceu de pintar.
Procuro apenas viver o dia-a-dia sem estabelecer objectivos a longo prazo, sem me prender ao passado e ao futuro. Sendo eu, com as minhas loucuras, frustrações e o meu gato...
Além disso... Bom FDS para todos, com estima e amizade, por todos os que perdem tempo a ler um chorão deste calibre...
quinta-feira, abril 12, 2007
momento musical do dia
Boys Don't Cry - liga o som e clica no link anterior - (The Cure)
I would say I'm sorry if I thought that it would change your mind
But I know that this time I have said too much, been to unkind
I try to laugh about it, cover it all up with lies
I try to laugh about it, hiding the tears in my eyes
'cos boys don't cry
Boys don't cry
I would break down at your feet and beg forgiveness, plead with you
But I know that it's too late and now there's nothing left that I can do
So I try to laugh about it, cover it all up with lies
I try to laugh about it, hiding the tears in my eyes
I would tell you that I loved you if I thought that you would stay
But I know that it's no use that you've already gone away
Misjudged your limit, pushed you too far
Took you for granted, I thought that you needed me more
Now I would do most anything to get you back to my side
But I just keep on laughing, hiding the tears in my eyes
'cos boys don't cry
Boys don't cry
Amizade...
Em parte, pegando em qqc do post de ontem, em especial nos valor que damos à amizade, gostava de referir que muito se escreve sobre este tema... ainda que me pareça que o ser humano muito pouco ou nada sabe sobre a amizade. Tentamos criar conceitos que se reduzem à nossa experiência de vida e aprendemos a viver com as desilusões que os amigos nos trazem.
Existe uma infinidade de conceitos para definir a amizade mas poucas são as palavras que abarcam algo tão abstracto. Conceitos bonitos, de grande sensibilidade ou “castelos-nas-nuvens”? A amizade tal como o amor deve ser alimentada, pelo respeito e pelos gestos de carinho e de estima. Basta apenas uma palavra de compreensão para alimentar a amizade e o amor... pequenos gestos que se tornam tão grandes na sua importância. Saber ouvir pode ser o gesto... saber ouvir, é dar importância a quem a tem... e esses são os amigos...
Às vezes precisamos aprender a ouvir sem julgar...
quarta-feira, abril 11, 2007
um abraço para quando faz falta...
"Não pode ser seu amigo quem exige seu silêncio ou atrapalha seu crescimento." (Alice Walker)
O relacionamento entre pais e filhos é algo constante nas nossas vidas e sempre com altos e baixos. A juntar a isto temos uma tendência cultural e muito europeia, para não dizer apenas “tuga”, para sermos o centro do nosso mundo e sentirmos que os actos dos outros nos são dirigidos...
Assim nem sempre é possível vivermos em harmonia entre diferentes gerações, em especial quanto o respeito é algo que apenas tem uma direcção... em concreto de filhos para pais. Isto acontece fundamentalmente porque as pessoas apesar de uma grande proximidade familiar não se conhecem e não consideram sequer importante conhecer o outro.
As relações que temos com amigos além de mais soltas e onde o respeito permite uma proximidade relativa, tem apenas o defeito de durar até acabar. Entre pais e filhos, é pior que o casamento, porque é mesmo até que a morte nos separe.
Isto não significa que o amor não existe, apenas que as pessoas vivem as suas vidas de formas que não são obrigatoriamente iguais mesmo que os valores que as conduzem sejam. O mundo é diferente... no último século, o mundo tem mudado tão rapidamente que a nossa adaptação às novas realidades depende da geração em que nascemos e da vontade de nos adaptarmos.
O mundo ocidental precisa que as pessoas vivam mais depressa, com uma maior disposição para aprender depressa o novo mundo que nos rodeia... as relações são diferentes da geração que nos antecedeu, que cresceu sob as criticas conservadoras de uma realidade fascista.
O que pode ser o fiel da balança nas relações? O amor e a tolerância... Pensem nisto... ou não?!
Um abraço aos amigos e à família... a todos os que sinto falta quando não estão...
segunda-feira, abril 09, 2007
300... momentos culturais
O passo de Termópilas defende [...]» Luis Vaz de Camões - Lusiadas - último canto, estância 21
300... um dos grandes filmes do ano (e ainda não chegamos a meio) baseado numa BD de Frank Miller sobre a Batalha de Termophilae. Uma história de coragem que chega aos nossos dias com um grafismo de BD, perfeito para as mulheres "lavarem os olhos" (tenho pena de informar que se forem só pelo Santoro, são capazes de sairem desiludidas) e para qualquer homem que aprecie histórias com muito sangue, ficar vidrado e sem folego do principio ao fim do filme.
Depois da calma vem a tormenta...
Quero referir ainda que na sequência do último post (já com 2 semanas...) recebi comentários por messenger em total desacordo com a minha opinião. Comentários esses (permite-me lembra-te) só são possiveis pelo facto de vivermos nesta democracia corrupta em que vivemos. Podias tê-los colocado no blog... sou suficiente democrático para colocar todos os comentários e não apenas as palmadinhas nas costas que me são dadas por quem concorda com as minhas opiniões livres... O Salazar podia ter muitas qualidades, mas deu-nos um país em que poucos podiam pensar mas apenas de acordo com o que uma elite pensava... não havia liberdade... uma falsa sensação de segurança, na qual as diferenças socio-economicas eram grandes mas não tão grandes como se vieram a tornar (concordo)... eu não vivi nessa época senão podia ter apanhado com uma carga policial, por ler Marx, ter um poster do Che ou ouvir um disco do Zeca... se interrogado por pensar e dizer que não concordava com as políticas económicas e educacionais de um país que não era um paraíso (apenas o poster dele...).
A vida não é a preto e branco... existem ainda várias câmbiantes de cinzentos... se fores mais atrevido(a) poderás seguir outro caminho e descobrir que existem azuis, vermelhos, verdes, amarelos...
Vou tentar recuperar o tempo perdido e postar mais regularmente...
Um abraço num país de em que posso gritar bem alto "ISTO É TUDO UMA MERDA..."
P.S. Foi-me enviado um comentário com um link que se refere ao cartaz do PNR, que julgo ser importante para quem tiver interesse.
sexta-feira, março 30, 2007
O fascismo voltou?
Pensei em deixar passar a pobreza de espirito de todos quanto votaram no senhor Dr. Salazar (que teve as suas qualidades, sendo uma referência entre os portugueses da sua época) mas já parece preocupante que se queiram atirar os males que ocorrem neste país para imigrantes legais que contribuem para a riqueza deste país garantindo em muito casos, que muitos pobres de espirito possam receber a sua pensão no fim do mês.
Preocupante que neste pequenino país pensemos ser superiores a alguém com uma história mais rica e antiga que a mais antiga nação da europa...
O mundo tem sofrido mais mudanças nos últimos 20 anos do que conseguimos recordar, o comunismo morreu e o Fidel também já foi (só que ainda não sabe!), as torres gémeas a desfazerem mostraram ao mundo que os USA não são nem omnipotentes, nem intocáveis... um mundo novo em que um irão e uma coreia do norte desafiam o poder de uma superpotência que já não consegue reunir os aliados que ainda há 6 anos estavam desejosos de partir numa cruzada contra os islão. Uma superpotência que contribui para o aumento do efeito de estufa e que vai precisar de novos aliados para chegar a uma solução.
O mundo mudou e não só os portugueses não aprenderam nada como querem recuar 33 anos no tempo... para um mundo que já não existe. Os portugueses eram e são uma nação de emigrantes espalhados pelo mundo. Se esses deslocados que temos nos 4 continentes regressassem e substituissem os imigrantes que por cá trabalham, será as condições económicas e sociais iriam melhorar? A produtividade dos portugueses que tão apreciada se diz ser por esse mundo fora iria melhorar a nossa qualidade de vida? Será que iamos receber os emigrantes portugueses nos USA, no Canadá, na Venezula que fazem a sua vida na marginalidade, com esta alegria Nacionalista?
A mim os imigrantes não me chateiam... muitos estão cá trabalham e contribuem para a Segurança Social que não vai reverter para eles, mas para nós que continuamos a explorar a mão de obra imigrantes, como os alemães, os franceses, os espanhois, os suiços fazem...
As migrações só existem porque o local onde vivem as populações que se deslocam não produzia para garantir a subsistência. Assim era Portugal na época "paradísiaca" do fascismo... assim é hoje... A segurança que todos se queixam está relacionada com a economia e não os imigrantes. Economia essa que ficou de rastos com a "guerra do orgulho nacional" onde morreram tantos portugueses de ambos os lados. Este é o país que ainda estamos a tentar levantar...
É o país que temos... mas será que posso fazer alguma coisa para o mudar?
Dia 1º de Abril... license to lie...
A mentira é normalmente uma questão de perspectiva, na qual se esconde uma verdade mais abrangente... ou meramente uma manipulação da verdade. Filosófico talvez mas não deixa de ser verdade... ou mentira.
A verdade tal como a a mentira fazem parte do virtual da realidade. As perspectivas diluem-se e a verdade e a mentira não passam de duas faces da mesma moeda. Quanto falo em virtual procuro referir a conceitos que precisamos para definir a realidade. Mas a verdade é que nem a verdade nem a mentira existem. O que existe, são diferentes visões de um mesmo objecto. O Homem (ok... a Mulher também...) é que manipula a visão da realidade com as palavras. São estas que criam a verdade e a mentira.
Mas afastei-me do Dia das Mentiras para puder brincar com as palavras... no fundo, se não tivermos um espirito brincalhão como conseguimos nós viver numa realidade cada vez menos verdadeira? Em que as diferentes expressões do nosso eu partilham a dualidade da verdade e da mentira?
Precisamos representar cada vez mais papeis no nosso dia-a-dia, ao ponto de esquecermos o real e criarmos a imagem do que gostavamos de ser. Manipulamos o nosso eu tantas direcções diferentes que a própria realidade se distorce. Para manter a sanidade, precisamos de brincar.
Vamos fazer do dia das mentiras uma expressão daquilo que somos... Crianças em pele de adultos... Punham sorrisos na cara e experimentem andar com eles...
Bom FDS
segunda-feira, março 26, 2007
Filmes e músicas...
Não começou na 6ª mas sim no sábado, com o passeio errático e sem destino programado na Feira da Ladra, onde se respira uma atmosfera mista de malandrice e nostálgias, cultura e quinquilharia. Quero propor como som do dia (e talvez da semana), para quem gosta de música irlandesa a compra de sábado, que saiu a bom preço e sem grandes negociações: The Dubliners.
Depois almocei com uma alarvidade comedida, num tasco no Beato, em jeito de despedida de um bom amigo, que vai procurar outras atmosferas na capital da europa civilizada e triste: Bruxelas.
Despedidas feitas e espirito irrequieto... que fazer? Vou cravar a Patanisca para dar a volta dos tristes. Efectuado o convite e lá seguimos nós em direcção (um pouco vaga e sem ideias muito definidas) a Sintra e ao sol. A primeira paragem foi no cabo da Roca, onde estava um sol quente e um vento cortante e nada desagradável vindo do mar. Depois um pulinho até à praia do guincho. Uma tarde bem passada e em boa companhia.
Da musica já falei. Quanto aos filmes decidi seguir o conselho da Especiaria e aluguei o filme "Água". Fotografia magnifica e uma história que mexe na alma.
Deixo, assim, duas sugestões culturais a quem se interessar pela coisa...
sexta-feira, março 16, 2007
Vamos meditar um pouco...
Os mails ainda servem para qqc + do que mandar anedotas, pedidos de sangue ou transplantes de medulas para doentes terminais que estão a morrer à pelo menos 10 anos, para nos propor "negócios da china" no meio do continente africano ou no Brasil... ocasionalmente trazem notícias de quem não ouvimos há muito ou trazem algo em que pensar... A seguinte transcrição enquadra-se nesta última categoria... não fala em sentimentos, mas na cultura de um povo e no que pudemos mudar para melhorar. Talvez se cada um fizer um pouco...
Construir um País
Precisa-se de matéria prima para construir um País
Eduardo Prado Coelho - in «Público»
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... MEDITE!