Queria escrever um conto...

Queria escrever um conto... mais um... a desinspiração cresce na minha alma cansada... ou então deixei de saber como escrever... já não sei contar histórias... passam-se os dias e nada de novo surge, a não ser um constante repetir das desilusões de uma vida só...

Deixei de arriscar a entrega mas não sou honesto sequer comigo... deixo que acreditem num amor que não sinto apenas para não estar só... tenho medo de estar só...

A solidão pesa todos os dias em que me levanto, arrastando-me num dia para qual não consigo dar um sentido... mas que sentido iria eu dar à minha vida se nem sequer a sei viver?!

Que posso eu dar a uma mulher... além de carinho e sexo? Estabilidade? Não me parece que seja capaz...

E gostava eu de voltar a escrever um conto...! Só podia escrever sobre tristeza e solidão... Nem a vida vivo... limito-me a ir passando por ela e ela por mim, tendo a sempre a esperança de um dia conseguir apanhá-la... ou já sem esperança...

Não saio... não tenho uma bebedeira a contar... apenas sexo, tristeza e muita solidão... não faço viagens, não converso, não vou a um espectáculo, não sei ter amigos... sei apenas estar disponível para eles...

Nada... apenas uma vida vazia sem uma imaginação que a encha... estou cansado da vida... de não ter nada... de não ser nada...

Gostava de voltar a amar e o medo não me deixa... apenas sei fazer que me amem... ou talvez não...

Não sei escrever sobre a música que me preenche, os livros dos outros que vivo ou dos filmes que sinto... por não ter nada de meu para dizer...

À quanto tempo eu não sou eu? À quanto tempo me desliguei da vida? À quanto tempo quis deixar de amar? Já perdi a conta às noites geladas pela solidão... Tu passaste pela minha vida e deixaste uma marca funda... uma ferida aberta que outro amor não fecha... nem outro amor há...

O sofrimento não me conta histórias, nem os contos fluem... por que já não sou quem era... deixei de amar a vida... deixei de me amar a mim...